CPI dos Lavradores (1953)
Adilson Vilaça, estudioso do messianismo e do caso de Cotaxé, relata em
sua obra sobre o efêmero Estado de União de Jeovah trechos do trabalho
da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do
Espírito Santo, criada em 1953. A CPI, conhecida como CPI dos Lavradores,
foi formada para investigar os conflitos entre a Polícia Militar e lavradores
no norte do estado. A comissão, composta por cinco deputados,
investigou a situação e, em novembro, concluiu que, se não fossem as
ações enérgicas da polícia, a região poderia ter vivenciado algo
semelhante a Canudos, dado o nível de organização dos posseiros. Ao
mesmo tempo, a CPI colheu depoimentos que relatavam excessos das
forças de segurança.
O relatório da CPI destacou termos como "desmandos", "arbitrariedades"
e "responsabilidade penal" em relação à atuação policial, afirmando que
os posseiros eram tratados como invasores. Embora a responsabilidade
pelos abusos fosse atribuída aos chefes dos destacamentos policiais, o
governador Jones dos Santos Neves foi isentado de envolvimento direto.
No entanto, a isenção do governador foi motivo de discordância entre
três membros da comissão, que emitiram votos em separado,
expressando divergência quanto à conclusão de que o governador não
tinha responsabilidade nos eventos violentos.
Anos depois, em 1966, o deputado Luiz Batista (MDB) descreveu no
Plenário a situação precária dos trabalhadores rurais da região. Ele
relatou um grande êxodo de lavradores que estavam migrando para
outras partes do Brasil, como Paraná, Santa Catarina e Goiás, devido à
falta de incentivos do governo, aos baixos preços agrícolas e aos altos
impostos. Esse cenário agrário deteriorado intensificou a saída de muitas
famílias dos municípios de Ecoporanga, Barra de São Francisco e
Mantenópolis, em busca de melhores condições de vida.